Descrição Fugido do hospício, Jeremias era conhecido como doido, mas para ele mesmo, havia cer¬a dúvida: às vezes se entendia às mil maravilhas e às vezes sem maravilha alguma. Fora encarregado, por algum poder altíssimo, da educação do mundo ou, mais especificamente, da jeremização do mundo. Gente importante o qualificara como “nonsense” o que era com certeza, coisa de extrema qualidade. Tinha, pela Humanidade, um carinho excessivo, no mesmo tanto em que era desprezado. Não se podia fazer dele uma narrativa, porque os acontecimentos não tinham par¬es que se articulassem. Só pequenos contos, tudo solto e desgarrado, sem os sedentarismos da escrita. Seu lema era “ir embora” de qualquer lugar. Seu universo mental era suntuoso, dolorido e oscilante como um grande barco perdido em águas estranhas. Foi educado pelos freis, que se adaptaram às condições do aluno, de modo que suas fronteiras mentais foram de tal modo alargadas, que ele tinha mesmo que sair andando. Jeremias não era narrável.
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