Descrição Alguns pensadores se exaltam com a ideia de colocar por terra – por completo – os valores que já estão bem estabelecidos. Assim, afirmam com prazer que o homem mais subversivo de todos – o marquês de Sade – é também o que melhor serviu a humanidade.Segundo eles, nada pode ser mais correto. Trememos diante da ideia da morte e da dor (sejam elas nossas ou dos outros); o trágico ou o imundo nos aperta o coração; no entanto, o objeto de nosso terror tem, para nós, o mesmo valor que o sol, que não é menos glorioso se desviamos da sua claridade nossos olhares reprovadores. Georges Bataille Foucault observou, em várias ocasiões, que Justine está para a modernidade como Dom Quixote para o barroco. Ao ler as relações entre o mundo e a linguagem à maneira do século XVI, isto é, pelo viés da semelhança, Quixote vê castelos nas estalagens e damas nas camponesas. Aprisiona-se, inconscientemente, no mundo da pura representação; mas, como essa representação só tem por lei a similitude, a equação reveste a forma irrisória do delírio, tornando o herói uma simples personagem de um livro que não leu e cujo destino lhe é imposto, na galhofa, pelos outros. Em Justine assistimos ao momento de declínio desse mesmo movimento. Não se trata mais do triunfo irônico da representação sobre a semelhança, mas da violência do desejo, quebrando os limites da representação. Justine é um libelo contra os philosophes. Não defende nem o livre exame nem a liberdade de costumes, mas a servidão da razão aos de
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