Descrição Nascido em Topeka, cidade americana no estado do Kansas, e radicado em Nova York, Ben Lerner narra em seu segundo romance a história de um escritor nascido em Topeka, cidade americana no estado do Kansas, e radicado em Nova York. Logo nas primeiras páginas, o leitor se dá conta de que, assim como o autor, seu personagem despontou aos 30 e poucos anos com um livro “inesperadamente elogiado”. Porém, quase simultaneamente ao sucesso, o protagonista de 10:04 descobre “uma dilatação ainda assintomática mas potencialmente aneurismática” em sua aorta, o que vai exigir constante monitoramento e provável intervenção cirúrgica, e recebe de sua melhor amiga a proposta de gerarem um filho juntos – via inseminação artificial, claro, já que, nas palavras da moça, sexo com ele “seria bizarro”. Tendo de lidar ao mesmo tempo com a transitoriedade e a paternidade, o narrador tenta decifrar pinturas em paredes de consultórios médicos, cozinha para manifestantes do Occupy Wall Street, cumpre a estranhamente complicada tarefa de coletar seu próprio sêmen, se prepara para a chegada de uma tempestade apocalíptica, redige um livro sobre brontossauros a quatro mãos com um menino de oito anos e almoça filhotes de polvos massageados até a morte em restaurantes superfaturados na companhia de sua agente, que lhe dita os próximos passos: transformar em romance um conto seu publicado na revista New Yorker, algo que pode proporcionar um “polpudo adiantamento de seis dígitos”. No conto, o protagonista, apresentado como “o autor”, é um escritor ascendente diagnosticado com um tumor no cérebro – que, desde que não provoque perturbações visuais, distúrbios da fala e paralisia, não há de ser nada. Qual o trajeto da realidade à ficção? Como a ficção influencia a realidade? “Geralmente vejo a palavra metaficção relacionada a obras que chamam a atenção para seus próprios mecanismos, sua própria artificialidade, com o objetivo de zombar das convenções romanescas e mostrar a impossibilidade de capturarmos a realidade externa ao texto ou algo assim. Mas eu não estou nem aí para isso”, afirmou Lerner em entrevista à revista The Believer. “A maioria dos escritores parte hoje dessa posição de ironia, mas o que pretendi fazer, e realmente senti que era o que eu precisava fazer se quisesse escrever outro romance, foi buscar algo parecido com a sinceridade. O que quero dizer é que a autorreferência no meu livro é uma forma de tentar entender como a ficção funciona em nossas vidas reais, para o bem e para o mal, e não uma forma de zombar da inabilidade da ficção de entrar em contato com qualquer coisa que não seja ela mesma. Eu me preocupo em como vivemos as ficções, em como as ficções têm efeitos reais – se tornam, nesse sentido, fatos – e em como nossa experiência de mundo muda conforme seu arranjo numa narrativa ou outra.” Com a propriedade de quem é capaz de juntar na mesma página Jules Bastien-Lepage e De volta para o futuro (filme cujo icônico momento em que um raio atinge o relógio da torre, às 10:04 da noite, é a referência por trás do título do romance), Ben Lerner encarna um híbrido idiossincrático de Woody Allen e Paul Auster para, em sua prosa, jogar com palavras e conceitos sem deixar de lado um delicioso humor autodepreciativo e o fraseado neuroticamente metafísico que remete às suas origens como poeta. Como publicou o New York Times, “em seus livros pouco acontece, mas, mesmo assim, tudo acontece”: Lerner, dono de apurado senso ético e estético, escreve sobre a vida e o tempo presente. Aclamado como um dos melhores do ano por veículos como The New Yorker, The New York Times Book Review, The Wall Street Journal, The Guardian, The Times Literary Supplement e The Huffington Post, 10:04 é mais do que isso – uma das obras essenciais deste início de século.
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